A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma condição genética que faz parte de um grupo de neurofibromatoses, junto com neurofibromatose tipo 2 e schwanomatose. Cada uma tem características clínicas e possíveis complicações de saúde distintas.
Estima-se que a frequência da NF1 seja em torno de 1:8000 nascidos vivos. Esta condição está associada a alterações no gene NF1.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas envolvem vários sistemas (figura 1). É importante ter em mente que nem todas as pessoas irão apresentar todas as manifestações e que a variabilidade é grande mesmo dentro de uma família.
As manchas café-com-leite e as sardas (ou freckling) inguinal ou axilar são bem comuns e fazem parte dos critérios de diagnóstico. Os neurofibromas cutâneos, frequentemente observados, costumam surgir após a adolescência. O número e tamanho deles varia bastante. Dificuldades de aprendizado e problemas de comportamento podem ser observados.
As manifestações oftalmológicas incluem os nódulos de Lisch, alterações na coroide, glioma de nervo óptico, entre outros. Os nódulos de Lisch podem ser facilmente identificados no exame oftalmológico usando lâmpada de fenda e fazem parte dos critérios diagnósticos da NF1. O glioma de nervo óptico costuma surgir na infância e, em geral, permanecem assintomáticos durante a vida. Da mesma forma, as alterações observadas na coróide costumam ser assintomáticas ao longo da vida; porém fazem parte dos critérios diagnósticos atuais por serem manifestação muito sugestiva de NF1.
A NF1 está dentro do grupo de síndromes de predisposição a câncer. O surgimento de tumores benignos e malignos é motivo de atenção em pessoas com este diagnóstico e o acompanhamento clínico ao longo da vida é fundamental para minimizar problemas e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Os neurofibromas cutâneos são tumores benignos, usualmente pequenos e geralmente assintomáticos. Algumas pessoas, no entanto, referem uma alteração de sensibilidade ou sensação de “coceira” local. É importante conversar com seu médico sobre isso para que possam discutir possibilidades de tratamento para este sintoma.
Os neurofibromas plexiformes são tumores benignos que atingem muitos nervos ao mesmo tempo. Na maioria dos casos não são visíveis pois se localizam na parte interna do corpo. Devem ser avaliados com exames de imagem, tal como a ressonância nuclear magnética. Em alguns casos não são percebidos, pois não causam sintomas. No entanto, seu acompanhamento é importante por terem a possibilidade de crescer, comprimirem outros tecidos e causarem dor.
A neurofibromatose tipo 1 aumenta o risco para o desenvolvimento de tumores malignos da bainha de mielina, que é uma “capa” para os nervos periféricos; câncer de mama; gliomas de baixo grau de sistema nervoso central e leucemia. Como o risco para estes tumores aumenta em relação à população geral, a recomendação de exames de rastreamento é específica para pessoas com NF1.
Diagnóstico clínico de Neurofibromatose tipo 1
Os critérios diagnósticos foram atualizados recentemente e estão descritos na figura 2. Quando o pai ou a mãe tem diagnóstico de NF1, basta que o filho(a) apresente apenas um dos critérios. Quando não há uma história familiar ou um diagnóstico confirmado nos pais, é necessário que a pessoa apresente pelo menos dois destes critérios. Estes critérios foram atualizados em 2021 pelo International Consensus Group on Neurofibromatosis Diagnostic Criteria. É fundamental que quando haja suspeita desta condição, a pessoa seja avaliada por um médico com experiência em neurofibromatose tipo 1.
O exame genético é fundamental?
A avaliação molecular do gene NF1 pelas técnicas de sequenciamento de nova geração e MLPA pode ajudar a definir prognóstico de um caso, facilita o aconselhamento genético da família e, em alguns casos vai ser necessário para definir o diagnóstico. Cabe lembrar que os critérios para diagnóstico recomendados na atualidade incorporaram o sequenciamento do gene NF1.
Acompanhamento e tratamento de pessoas com neurofibromatose tipo 1
As pessoas com neurofibromatose tipo 1 se beneficiam de acompanhamento clínico ao longo da vida. A equipe multidisciplinar é fundamental para melhorar a qualidade de vida de pessoas com esta condição visto que as manifestações clínicas podem estar presentes em diversos sistemas.
A avaliação clínica geral, incluindo o exame neurológico, deve ser realizada pelo menos uma vez por ano. A medida de pressão arterial deve ser realizada em todas as consultas, não só pela maior chance de ocorrência de feocromocitoma; um tumor produtor de hormônios que elevam a pressão arterial, como também pelo maior risco de ocorrência de hipertensão em pessoas com NF1.
Atenção ao desenvolvimento das crianças é importante para diminuir o impacto que um eventual atraso do desenvolvimento possa ocasionar. Nem todas as crianças com NF1 irão ter alguma alteração do desenvolvimento, mas se houver, a terapia de reabilitação multidisciplinar precoce pode auxiliar.
Por conta do risco de câncer de mama em mulheres com NF1 ser maior do que o risco deste tumor na população geral, a recomendação é que as mulheres mantenham acompanhamento clínico com ginecologista ou mastologista e iniciem o rastreamento de rotina para tumores de mama aos 30 anos, ou seja, mais cedo do que o recomendado para a população geral.
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Referências
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